Quando a gente sonha com uma viagem de pesca, normalmente a cena já vem pronta na cabeça: o destino dos sonhos, a água brilhando ao sol, aquele peixe enorme que vai fazer a foto perfeita.
Muitas vezes é uma viagem planejada com meses de antecedência, parcelada no cartão, guardada com expectativa. E é natural que, depois de tanta espera, a gente chegue lá com a ânsia de fisgar o troféu. Mas a verdade é que, por mais que a gente planeje, quem dá a palavra final é sempre a natureza.
Foto: Pedro Hertz
Na pesca, não somos nós que ditamos as regras. O peixe é quem decide. O clima muda, a temperatura da água oscila, a pressão cai, a lua influencia, as barragens próximas alteram o comportamento do rio.
Tudo isso afeta a forma como o peixe se alimenta, como se movimenta, como reage. Tem semana em que ele está ativo, batendo com força, e na semana seguinte parece que desapareceu. Mas ele não desapareceu. Ele só mudou. E nós, que viajamos quilômetros para encontrá-lo, precisamos lembrar que estamos entrando no território dele e não o contrário.
Na última viagem que fiz para a Argentina, vi isso de perto. Os dourados saltavam à minha frente, exibidos, como se dissessem: “Estamos aqui, mas hoje não quero.” As técnicas tradicionais não funcionavam, e foi só quando o guia sugeriu tentar o baitcasting, pesca de arremessando, batendo isca artificial o dia inteiro, que conseguimos duas ações. Duas! Era o que o rio estava disposto a oferecer! Quando compartilhei isso no Instagram, recebi mensagens do tipo: “Ah, mas eu não quero ir pra Argentina pra pescar de baitcasting.” E tá tudo bem! Não existe jeito certo ou errado de pescar. Existe o seu jeito, o seu objetivo, a sua disposição.
Fotos: Pedro Hertz
E é aí que entra a pergunta que fica ecoando: o que você realmente quer da pesca esportiva?
Você quer o troféu dos sonhos, custe o que custar? Está disposto a acordar mais cedo, lançar a isca milhares de vezes, mudar de técnica, insistir até o último minuto? Ou você busca a experiência completa, como o silêncio do rio, a conversa com os amigos, a cerveja gelada…e deixa o peixe ser apenas consequência?
Não existe época ruim de pesca, nem destino “sem peixe”. Existem fatores que fogem ao nosso controle. O que está nas nossas mãos é a dedicação, a paciência, a escolha de como viver cada dia no barco. O troféu é um desafio. A experiência é um presente.
Fotos: Pedro Hertz
Então, antes de embarcar, talvez valha olhar para dentro e responder: o que eu quero da minha pescaria?
Não existe certo ou errado. Só caminhos diferentes e resultados que acompanham a decisão de cada um.
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