Quando a dor vira memória: uma visita ao Museu Kura Hulanda, em Curaçao

O passado que Curaçao não esconde e que precisamos conhecer para entender o presente.

Por Laís Vanessa - 15/05/2025 em Notícias / Turismo

Tem lugares que parecem respirar. Não falo da brisa quente que dança entre as janelas antigas ou do sol que escorre pelos becos coloridos de Otrobanda, em Willemstad.


Falo de um respirar mais profundo, aquele que vem da alma do lugar, como se cada parede guardasse histórias que ainda não querem se calar.


Foi assim que me senti ao cruzar os portões do Museu Kura Hulanda. Não era só um museu.


Foto: Victor Mayer Brasil.


Entre esculturas africanas, máscaras cerimoniais, mapas antigos e instrumentos de tortura que ninguém gostaria de imaginar, encontrei a senhora Florentina. Guia. Guardiã. Voz firme com olhos marejados. Ela não recitou datas. Contou histórias.


Com emoção nas palavras e um respeito profundo no silêncio entre elas, falou da chegada dos africanos à ilha, arrastados, forçados, violentados.


Contou como Curaçao foi um dos centros do tráfico transatlântico de escravizados, e como o sangue africano, mesmo vindo em correntes, fincou raízes e hoje floresce em cultura, música, fé e resistência.


O museu é um mergulho na origem da humanidade, passando pelas grandes civilizações africanas, pelo horror do cativeiro, e pelo renascimento cultural nas Américas.


Foto: Victor Mayer Brasil.

São mais de 2 mil peças, muitas vindas do continente africano, dispostas com cuidado em um antigo entreposto de escravos, restaurado para que a história seja lembrada, não esquecida.


Fundado em 1999 pelo filantropo holandês Jacob Gelt Dekker, o Museu Kura Hulanda é uma das coleções mais importantes do mundo sobre a diáspora africana. Fica ali, no coração de Otrobanda, na Klipstraat 9.


Aberto de terça a sábado, das 10h às 17h, com ingressos a partir de 10 dólares. Mas aviso: o que se leva de lá não cabe no bolso, nem se mede em dinheiro.


Turistas que buscam praia e cor de mar podem até pensar que esse é um passeio triste. Mas, na verdade, é um dos mais necessários.


Foto: Victor Mayer Brasil.


Porque é ali que a gente entende que viajar também é um ato de escuta.


E que respeitar o hoje passa, sim, por honrar o ontem.


Eu disse que iria a fundo nesse especial e conhecer a alma da ilha, não é?


E esse é apenas o começo...



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