Semana do Pescado 2021: a luta pelo crescimento do setor

Faltando um mês para início da campanha, organizadores prometem que será a maior já realizada

Por Marcelo Telles - 02/08/2021 em Notícias / Mercado - atualizado em 02/08/2021 as 16:50

A Semana do Pescado

A fila para a compra de peixe no mercado está enorme, pessoas disputando o pescado mais bonito, escolhendo a dedo os melhores frutos do mar... Parece a descrição exata de qualquer estabelecimento brasileiro na Sexta-feira Santa ou no Ano Novo, não é verdade?

Para a área de pescados, essas datas são de extrema importância, mas ela pode (e deve) ir muito além.

Com o intuito de desmistificar a ideia de que o pescado só entra como protagonista em uma mesa de jantar nessas épocas do ano, vai acontecer, pela décima oitava vez, a Semana do Pescado.

Essa ação surgiu da antiga Semana do Peixe. Com a extinção do ministério da pesca em 2015, o próprio setor produtivo continuou realizando a campanha, pois trazia muito retorno comercial e fidelizava novos clientes.

Frutos do mar e demais pescados são o foco da campanhaFrutos do mar e demais pescados são o foco da campanha — Foto: Reprodução/ChefTime

Para começar, é bom lembrar que a denominação "pescado", engloba todo animal aquático que é utilizado para fins alimentícios, como peixes, moluscos e crustáceos.

Muito saborosos, de grande valor nutricional e com um forte impacto na economia, os pescados estão presentes nos cardápios de diversos restaurantes e na mesa do povo brasileiro. Mas esse consumo ainda é baixo, comparado às metas que a Semana do Pescado possui.

Ela acontece do dia 1 ao dia 15 de setembro, justamente, para criar a cultura do consumo de pescado, já que está ligada, de forma direta, com saúde e qualidade de vida.

Outro fator importante que tem destaque na Semana do Pescado, possui relação com a economia, já que a elevação do consumo do pescado impacta na economia brasileira, especialmente na cadeia produtiva.

Pescado possui alto valor nutricional e forte impacto no mercado                                     Pescado possui alto valor nutricional e forte impacto no mercado — Foto: Vinícius Gaensly

A coordenadora nacional da Semana do Pescado, Jéssica Feller, comentou à Fish TV que a expectativa é de que esta campanha seja a maior até então, já que antes, o formato era mais fechado e muitas regiões acabavam não participando.

"A gente acredita que esta vai ser a maior e melhor, pois estamos respeitando a regionalidade. Desde o início do ano, fazemos reuniões regionais toda a semana com a cadeia produtiva, com grandes associações e representantes de classe. Esse ano trabalhamos com engajamento, pedindo para que se respeite a cultura do consumo e de produção das suas cidades e regiões", comentou Jéssica.

Apesar de existir uma cultura forte do consumo de pescado no Brasil, ela ainda pode crescer e beneficiar vários setores. A coordenadora da campanha reforça que existem diversas opções para o consumo, já que o nosso país tem mais de 200 espécies comerciais de pescado.

"Estamos tentando trazer informações, receitas e dados que mostram que o pescado pode ser consumido pela pessoa que mora sozinha, crianças também... Quanto mais pessoas souberem disso, mais vamos conquistar e fidelizar novos consumidores", disse.

Receitas serão apresentadas durante a Semana do Pescado                             Receitas serão apresentadas durante a Semana do Pescado — Foto: Reprodução/Gelar: Comida Caseira

De acordo com a coordenação da Semana do Pescado, em 18 anos de campanha, o Brasil passou de 6kg de média de consumo de pescado por pessoa ao ano, para 11kg. Ainda assim, este número é inferior ao que a OMS (Organização Mundial da Saúde) indica para o consumo.

Esse valor não é tão alto, visto que o Brasil tem diversas possibilidades de pescado. Com muitos mares e águas internas, esse consumo pode crescer.

Algumas cidades situadas no Norte e no Nordeste do país, possuem uma média de 22kg de pescado consumido por pessoa ao ano, deixando claro que falta conhecimento e acesso às demais regiões.

Material produzido para a Semana do PescadoMaterial produzido para a Semana do Pescado — Foto: Semana do Pescado

O pescado na economia brasileira

O aumento do consumo desejado pela coordenação da Semana do Pescado, estimula a produção, gera empregos, renda e riquezas para o país, desenvolvendo o grande potencial produtivo que se tem na área da pesca e da aquicultura.

Em entrevista para a Fish TV, o oficial de Pesca e Aquicultura da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) para a América Latina e o Carine, Alejando Flores, comentou que é demasiadamente importante estimular um maior consumo, porém, é essencial que se acompanhe o aumento da procura com o incremento da produção interna, para um maior benefício do país.

"A dimensão do impacto do incremento do consumo de pescado depende de muitos fatores. Os principais são: o volume da expansão do consumo, a cadeia de valor associada aos produtos procurados e o incremento na procura com importações de pescado", comentou.

Alejandro ainda diz que a recuperação da renda da família brasileira será um fator determinante para que se tenha um retorno rápido ao caminho da expansão desse setor.

"O setor aquícola do Brasil tem se expandido de forma rápida e constante, como resultado das boas políticas públicas setoriais. O Brasil é o segundo maior produtor aquícola da América Latina, depois do Chile, mas o fortalecimento do mercado interno de pescado, a continuidade das políticas setoriais e as ótimas condições ambientais do país para o desenvolvimento da aquicultura, aliado, especialmente, à recuperação da renda familiar, manterão o crescimento da indústria nacional."

Pescado frescos e o seu consumoPescado frescos de cultivo e o seu consumo — Foto: Reprodução/Facebook

A Covid-19 e o impacto no setor

A pandemia atingiu, praticamente, todos os setores econômicos do planeta. Não foi diferente com o setor de pescados. Em alguns casos, a procura por pescados teve uma queda de até 80%. Como citado por Alejandro, isso afetou ciclos de produção, que tiveram de manter organismos nos sistemas aquícolas por mais tempo.

"Isso causou maiores custos e maiores riscos. Até mesmo fazer a colheita mais cedo e vender a preços mais baixos, para evitar perdas. A cadeia de fornecimento de rações também foi afetada. Em geral, nos primeiros meses da pandemia, a interrupção da mobilidade também afetou o transporte dos produtos para os mercados".

Pandemia da Covid-19 afetou mercado de pescadosPandemia da Covid-19 afetou mercado de pescados (peixes de cultivo) — Foto: Reprodução/Município de Itajaí

Com toda a situação citada por Alejandro, muitas empresas pequenas não tiveram condições de permanecer na ativa. Todavia, o oficial de Pesca e Aquicultura já vê o setor se recuperando gradativamente.

"Com a 'nova normalidade', a recuperação do setor já começou. O impacto na economia dos países, sem dúvida, irá atrasar o retorno da procura nacional aos níveis pré-pandemia, mas as empresas aquícolas exportadoras, estão se recuperando mais rápido", disse.

Alejando Flores ainda reforçou a importância de que os governos providenciem crédito com baixos juros aos pequenos produtores, garantindo sua sobrevivência e o emprego.

"Alguns países tem parado, temporariamente, a cobrança de impostos e oferecido créditos para facilitar a recuperação. No pós-pandemia, será muito importante a criação de estratégias integrais para o fortalecimento da resiliência do setor aos impactos externos como a pandemia", comentou.


O valor nutricional do pescado

Não é difícil encontrar casos de pessoas que, em busca de uma alimentação mais saudável e nutritiva, passem a procurar mais os produtos pescados para incluí-los em sua alimentação. E essa busca tem fundamento.

Segundo a nutricionista, professora e colaboradora federal do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), Drª Liliana Paula Bricarello, os pescados são ricos em proteína de alta qualidade nutricional, minerais e vitaminas.

Porém, para a perda de peso, o consumo de pescados deve entrar em uma dieta balanceada.

"Se o pescado fizer parte de uma alimentação adequada e saudável para a pessoa que precisa perder peso, pode ajudar, já que é um alimento com pouca gordura e muita proteína. A forma de preparo também influencia no seu valor calórico. Eu recomendo o preparo destes, assados, cozidos, ensopados ou grelhados, evitando a fritura em imersão", disse.

Esses dados vão além. Os pescados também possuem menos conteúdo de gorduras e, em geral, possuem uma proporção adequada das gorduras saudáveis (como as poli-insaturadas, principalmente os ácidos graxos ômega 3 - n-3).

Carne de pescado possui diversos benefícios na alimentaçãoCarne de pescado possui diversos benefícios na alimentação — Foto: Reprodução/MF Rural

De acordo com a drª Bicarello, os ácidos graxos poli-insaturados têm funções bioquímicas e fisiológicas relevantes no metabolismo e na saúde humana, fundamentais para o desenvolvimento de crianças, por exemplo. (Lembrando que apenas o consumo de pescados, sem uma alimentação equilibrada, não garante esse benefício).

"Alguns mecanismos atribuídos ao consumo de peixes incluem: melhora no perfil lipídico (agindo na redução dos triglicerídeos), redução da pressão arterial, diminuição da agregação planetária e produção de prostaglandinas, que podem melhorar a função vascular no sistema nervoso central", comentou.

A drª Liliana, que também é professora e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina, ressaltou para a Fish TV que o melhor pescado é aquele que está na época, pescado na região e que a pessoa está acostumada a comer, respeitando sempre, os hábitos locais e regionais. Além disso, o teor de ômega 3 e 6 varia bastante entre os tipos de peixes.

"Estudos demonstram que os peixes de água salgada apresentam um maior percentual de n-3. Essa diferença na composição lipídica ocorre, principalmente, pelo tipo da alimentação disponível e estilo de vida dos peixes".

Tabela ômega 3 nos pescadosTabela ômega 3 nos pescados - Gráfico: Fish TV / Fonte: Schmidit EB, Dyerberg J. Omega 3 fatty acids.

Preparação e expectativa para a campanha de 2021

Tanto a organização do evento, quanto os profissionais de grande destaque no mundo dos pescados, estão ansiosos e com uma grande expectativa quando o assunto envolve a preparação para a Semana do Pescado de 2021.

Mais do que uma ação focada no aumento do consumo, a campanha pode impactar a economia brasileira e a saúde de cada indivíduo consumidor.

O oficial de pesca da FAO, Alejandro Flores, comenta que a Semana do Pescado pode ajudar de muitas formas, com a perspectiva do crescimento da produção e da indústria, mas sempre tendo uma visão integral de procura e oferta com benefício nacional. Ele reforçou que a campanha é muito positiva para a economia e para a população.

"O incremento na demanda de pescado pode ter efeito cachoeira na economia, principalmente local, onde a cadeia de valor inclui pescadores, aquicultores, processadores, varejistas e atacadistas, transportistas e muitos outros fornecedores de produtos associados à cadeia de valor. Da perspectiva da saúde é muito importante, pois o pescado, junto com uma alimentação equilibrada, pode reduzir os riscos (e custos) e doenças cardiovasculares", completou.

Já a drª Liliana destaca a importância do se divulgar os benefícios do consumo de pescados, aliado à políticas públicas.

"Campanhas como esta também devem ser feitas mediante políticas públicas eficazes, que levem em consideração as características populacionais, culturais e os hábitos alimentares dos brasileiros. Sugere-se que sejam implementadas ações que possam contribuir para o acesso ao consumos de pescados no Brasil', finalizou.

Quer participar?

A Semana do Pescado de 2021 começa no dia primeiro de setembro, quarta-feira, e vai até o dia 15 do mesmo mês. Há duas formas de participar da campanha:

Como patrocinador e como apoiador, sendo um multiplicador da campanha e divulgando a Semana do Pescado, além de procurar parceiros nas regiões, fortalecendo a mesma, seja com promoções ou outras ações que fomentem o consumo do pescado. 

Para mais informações, acesse o site oficial da campanha, clicando aqui.

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